Em 2021, Porto Alegre registrou a maior taxa de suicídio entre todas as capitais brasileiras, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), plataforma do Ministério da Saúde: foram 9,65 suicídios a cada 100 mil habitantes. A campanha do Setembro Amarelo, instituída em 2014, vem para simbolizar a luta pela quebra do estigma à saúde mental e do silêncio em relação ao suicídio, sendo o dia 10 de setembro o dia mundial de prevenção ao suicídio. É um mês que trazemos luz a um fenômeno que mata mais do que HIV, câncer de mama, guerras e homicídios no mundo, segundo dados da OMS de 2019.
Conforme pesquisa realizada pela UNICAMP, aproximadamente 1 em cada 6 brasileiros já considerou seriamente o suicídio em algum momento de suas vidas. Em 2019, mais de 700 mil pessoas morreram em consequência do suicídio. Esse dado se torna mais alarmante ainda quando consideramos que, para cada 1 morte por suicídio, houveram 25 outras pessoas que realizaram tentativa de suicídio. Frequentemente, me vejo trazendo algum destes dados acima em uma conversa no consultório com o paciente. Para assusta-lo? Para chocá-lo? Não! Paradoxalmente, na mesma medida em que estes dados chocam e assustam, eles também acolhem e desestigmatizam, eles nos mostram o quão frequente o suicídio e a ideação suicida são do que nos permitimos perceber. Também mostra que o suicídio e o pensamento suicida não é uma condição distante, rara, caricata, reservada apenas para os “loucos” e sim uma condição humana, causada por um adoecimento das faculdades mentais, a qual todos podemos estar sujeitos em algum momento da vida.
Sabemos que o suicídio, em mais de 90% das vezes, é prevenível, pois se relaciona a patologias mentais passíveis de diagnóstico e tratamento, tanto quanto o câncer de mama e o HIV. Muito provavelmente, todos nós já compartilhamos uma roda de chimarrão ou um almoço de família com alguém que já pensou em suicídio ou que talvez estivesse pensando naquele momento. Este mês vem como um símbolo, uma lembrança de estar atento, de se colocar disponível a ouvir os próximos e a nós mesmos. Falar sobre o suicídio não deve ser motivo de vergonha, de tabu. Somente colocando luz sobre este tema que poderemos dar palavra para o que é silêncio, explicar o que é imponderável, curar o que está adoecido e prevenir o que é considerado inevitável.
Psiquiatra Júlia Casini CREMERS 45438